Mãe , Plantadora das Sementes do Amor
I - A Mulher, No Mundo
Na
revista “A Saúde do Mundo”, da Organização Mundial de Saúde - OMS, o Dr. Halfdan
Mahler, Diretor Geral desta Organização, em editorial expende importantes considerações
que convém enfatizar : “As atitudes preconceituosas são obstáculos enormes ao
progresso. Além da relutância masculina em incluir a mulher no centro do desenvolvimento
e o seu fracasso em compartilhar as responsabilidades familiares e outras. As
próprias mulheres não têm muitas vezes consciência dos seus próprios direitos,
possibilidades ou necessidades.
A mulher pode, talvez, aprender com o homem no que respeita à definição de necessidades,
organização e planejamento familiares, e obtenção de recursos, especialmente
no contexto de instituições públicas e convencionais. O homem, por outro lado,
pode talvez aprender com a mulher sobre o aspecto prático de transformar a teoria
em ação.
O futuro da Humanidade depende de todos nós, homens e mulheres, e, com o decorrer
do tempo, será o fortalecimento da aliança entre os homens e as mulheres, que
nos conduzirá para o objetivo da Saúde para todos e do verdadeiro desenvolvimento”
isto é , com Justiça Social e Paz .
Também a Doutora Lesley Doyal em artigo sob o título “O trabalho é benéfico
para si”, ressalta :
“Nunca houve tantas mulheres a trabalhar fora de casa como atualmente Na maioria
dos países desenvolvidos representam entre 30 a 40 por cento dos trabalhadores,
e o seu número aumenta rapidamente em todo o mundo”.
Seria talvez ocioso e cansativo citarmos outras abalizadas opiniões de autoridades
internacionais dedicadas ao assunto e que vêm publicando artigos sobre o papel
fundamental das mulheres na construção de um mundo cada vez melhor, todavia
achamos indispensável citar um trecho da obra de Peter F. Drucker, o “papa”
da Administração no Mundo, em seu “best-seller” “Entrepreneurship”, qual seja:
“A Expansão do Citibank de Nova York está baseada, em grande parte, na sua percepção
prévia da entrada de mulheres jovens, com instrução superior e bastante ambiciosas,
no mercado de trabalho.
A maioria dos grandes empregadores americanos considerava essas mulheres como
um “problema”, mesmo no fim do Século XX e muitos ainda pensam assim.
O Citibank, quase o único dentre os grandes empregadores, viu nelas uma oportunidade
excepcional .
Ele agressivamente recrutou-as nos anos 70, treinou-as e enviou-as por todo
o País, como encarregadas de empréstimos e outras importante funções .
A essas mulheres, jovens e ambiciosas, muito deve o Citibank a sua transformação
no maior banco da nação e, e na realidade, seu primeiro Banco Nacional ”.
Este é, portanto, um dos testemunhos mais inquestionáveis sobre a importância
da participação da mulher no desenvolvimento econômico e social do Mundo.
II-
A Mulher, em Rotary
Tendo
o Rotary Internacional, pelo seu Board e em razão dos dispositivos estatutários
que o regem, decidido pela exclusão do Rotary Club de Duarte- Califórnia/USA,
em razão da sua transgressão às normas rotárias pela admissão de profissionais
do sexo feminino, travou-se uma batalha judiciária, cujo desfecho foi noticiado
ao mundo rotário, através da carta do Presidente M.A.T. Caparas, datada de 11/06/87,
a todos os Presidentes de Rotary Clubs. É dessa carta que extrai os seguintes
trechos: “ O caso Duarte, impetrado pelo Rotary Club de Duarte- Califórnia –USA,
contra o Rotary Internacional, foi finalmente concluído . O Supremo Tribunal
do Estado da Califórnia havia apoiado a decisão de um Tribunal local contra
nossas normas de afiliação, que excluíam mulheres, por considerar que as mesmas
violavam uma lei da Califórnia.
No dia 04 de maio de 1987, o Supremo Tribunal Federal dos EUA confirmou a ordem
de que deveríamos reintegrar o Rotary Club de Duarte e reconhecê-lo como um
membro do Rotary Internacional, embora contasse com mulheres em seu quadro social.
Não há Tribunal Superior junto ao qual impetrar novo recurso e, assim sendo,
cumprimos com a ordem recebida.
O Rotary age de acordo com a lei, e os rotarianos são cidadãos que acatam as
leis de seus respectivos países.
De fato, os Estatutos do Rotary Internacional prescrevem que unicamente aqueles
dispositivos que não violam as legislações locais devem ser obrigatoriamente
obedecidos pelos clubes membros da organização (Art. IV, seção 4). Portanto,
em vista da decisão sobre o caso Duarte, o dispositivo que limita a afiliação
a pessoas do sexo masculino perde sua vigência no Estado da Califórnia. Por
extensão, tal dispositivo deixa de vigorar também em qualquer Estado dos Estados
Unidos com uma lei semelhante ”.
Por analogia e princípio de equidade, recomendou o Board do Rotary International
que os Rotary Clubs, em todos os Países onde a legislação não discriminasse
o sexo feminino, adotassem igual procedimento ao adotado pelos Rotary Clubs
dos Estados Unidos, razão porque a quase totalidade dos Rotary Clubs do Brasil,
mediante Assembléias Gerais, excluiu do Artigo V, Seção 3, a expressão restritiva
“do sexo masculino”, assim abrindo as portas rotárias para admissão de profissionais
do sexo feminino, tal qual havia feito, sábia e pioneiramente, o Rotary Club
de Duarte, Califórnia/ USA .
A ampla aceitação e assimilação de profissionais do sexo feminino nos Rotary
Clubs do Brasil e de outros países, permitiu-lhes maior dinamismo e representatividade,
a tal ponto que, hoje, contam-se aos milhares os Rotary Clubs presididos por
profissionais do sexo feminino e às centenas os Distritos Rotários também governados
por profissionais do sexo feminino.
III
- A Mulher, na Família
Os
grandes sociólogos, em geral, reconhecem que a Nação é uma comunidade nacional,
constituída de comunidades urbanas e rurais que, sob o prisma político-jurídico
constituem a Sociedade Civil; as comunidades urbanas ou rurais, à sua vez, são
comunidades de famílias, daí porque se define a “família” como a “célula mater”
da Sociedade Civil e, portanto, também de qualquer Nação .
As figuras centrais da família são a mãe e o pai, cada um exercendo um papel
de transcendental significação para o seu bom e regular funcionamento, sendo
o principal dever de ambos a formação sentimental, intelectual, social, profissional,
cívica e espiritual dos filhos, enfim, a formação da personalidade de um verdadeiro
Cidadão, isto é, de um efetivo participante da Sociedade Civil, na dupla condição
de ser não somente um gerador de problemas familiares e sociais, porém, muito
mais do que isso , ou seja, ser o principal artífice da solução desses mesmos
problemas, e não como a grande maioria pensa: ser apenas um privilegiado detentor
de direitos, direitos, direitos ...
Em meu entender e muito a contragosto dos denominados “machistas”, o principal
papel educativo na família é o da “mãe”, em razão da sua mais intima e sublime
ligação sentimental com o filho, a qual cresce e se fortalece durante toda a
gestação e, depois, só aumenta pelos anos afora, durante toda a vida, em qualquer
fase de sua existência, seja na meninice, na juventude e até na idade madura,
pois com ele compartilha não somente suas dores e seus sofrimentos mas, igualmente,
suas alegrias pela conquista dos sucessos pessoal, profissional e social .
Já dizia o imortal educador e pedagogo Pestalozzi que “a Humanidade somente
poderá ser educada cara-a-cara e coração-a-coração” e, eu, plagiando-o, gostaria
de afirmar que a melhor educação dos filhos será aquela realizada pelas mães
e pelos pais, empregando o método “cara-a-cara e coração-a-coração”.
Porém não me resta a menor dúvida de que a primeira e principal educação é a
das Mães, a quem o Criador concedeu o privilégio biológico de modelar o filho
em seu próprio ventre; de propiciar-lhe o leite materno, para a primeira nutrição;
de cercá-lo de desvelo para ajudá-lo e acompanhá-lo nos primeiros passos e do
doce carinho materno para formar o seu coração e modelar e fortalecer o seu
caráter.
Na alma da criança, do jovem e depois da mulher e do homem, há de perdurar para
sempre a doce influência dessa obra do mais santo amor, com cuja recordação
o ser-humano edifica sua vida interior e a sua personalidade, para tornar-se
um verdadeiro e exemplar Cidadão .
Para sintetizar essa sublime obra da maioria das mães, a escritora e poetisa
Margaret J. Graffin escreveu o magistral poema que passarei a ler:
Meu
Filho, Meu Filho
“ Tua alma filho meu é parte da minha alma !
Completas minha vida, enches meu coração .
E ninguém , como tu, me dá ventura e calma
E , como tu, ninguém me dá mágoa e aflição .
Duramente serás pelo mundo julgado,
Se um ato vil manchar da tua vida o brilho,
“Tal mãe , filho tal” , diz um velho ditado
A honra de tua mãe , é tua honra , meu filho .
Segue, pois , pela vida a linha mais perfeita ,
Que assim tu me honrarás e todos me honrarão
Do que de bom semeei , faze filho, a colheita
Essa será gloria maior para meu coração”
IV-
A Mãe e o Rotary
Esta
palestra é dedicada a todas às mães mas, especialmente, às mães de rotarianos
, às mães rotarianas e às esposas de rotarianos que, além dos seus elevados
predicados familiares, sociais e religiosos, ainda adotam como lema de vida
“dar de si antes de pensar em si”, isto é, sobrepõem ao egoísmo natural dos
seres- humanos, o amor ao próximo e portanto também, é claro, aos mais próximos,
à própria família: cônjuges, filhos e netos .
Se me permitirem eu gostaria de representar todas as mães pela minha querida
esposa Maria Helena, à qual devo não somente 54 anos de feliz matrimônio- completados
no dia 30/04,mas também a maravilhosa família, composta de 4 filhos- entre os
quais o querido Companheiro Sérgio Luiz deste Rotary Club, noras, genros, 11
netos e 2 bisnetos , com que Deus premiou e abençoou nossa vida .
Neste particular gostaria de repartir com vocês, caros Companheiros e Companheiras,
as alegrias e emoções que nos dominaram, Maria Helena e eu, no vôo de São Paulo
para o Rio, dia 29/04, em viagem para participar da solenidade de posse da Nova
Diretoria da Academia Nacional de Engenharia - ANE (2003-06), quando a Comissária
de Bordo anunciou nossa presença e o meu aniversário de nascimento -29/04, e
os 54 anos de nosso casamento-30/04, o que provocou uma calorosa salva de palmas
de todos os passageiros , que muito nos comoveu .
A vida real e a História estão repletas de magníficos exemplos, que exuberantemente
justificam nossas reverentes homenagens às mães mas que, por questões de brevidade
nesta palestra, peço vênia para citar apenas dois .
O primeiro exemplo refere-se à história da vida de Santo Agostinho, relatada
no livro de René Fulöp-Miller, intitulado “Os Santos Que Abalaram O Mundo”,
já com mais de 14 edições, na qual o autor magistralmente narra a decisiva e
doce influência de Mônica- mais tarde Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho (354
d.C)- para a conversão do seu filho .
Aurélio Agostinho (Santo Agostinho, 354 a 430) , famoso Bispo de Hipona, na
África (396- 430), no decorrer da sua fecunda vida deixou importante produção
literária, filosófica e teológica, entre as quais, talvez sua obra prima tivesse
sido “ De Trindade” , com quinze volumes, onde procurou sistematizar a doutrina
Cristã, sendo por isso considerado um dos fundadores da Teologia e um dos “doutores
da Igreja”.
Para ter se uma idéia da transcendentalidade da sublime influência materna na
conversão de Aurélio Agostinho permitam-me transcrever dois trechos do livro
de René Fulöp-Miller , a seguir: “ Quando Mônica, sua devotada mãe o intimava
a desistir de sua conduta licenciosa, considerava suas palavras como “ tagarelice
de mulher”.
O próprio Santo Agostinho escreveu : “ Seguir-lhe os conselhos seria para mim
uma vergonha, pois eu tinha vergonha de não ser um sem-vergonha. Meus depravados
companheiros poderiam rir-se de mim”. Igualá-los, ou mesmo ultrapassá-los na
depravação era, naquele tempo sua maior ambição . Assim agia o homem que estava
destinado a tornar-se o mais austero censor de si mesmo e dos outros, que iria
seguir o rastro do mal até sua verdadeira fonte no pecado original e da corrupção
da humana grei.
“ À Mônica, mãe do seu renascimento espiritual, dedicou Agostinho imortal monumento
numa passagem de suas confissões, onde fala de sua derradeira e estaticamente
mística conversa com Mônica, a qual realizou numa tarde do começo de verão,
poucos dias antes da sua morte .
Nesta conversação em que mãe e filho erguiam-se acima das coisas do Mundo e
uniam-se numa mística visão das verdades eternas , vemos Agostinho e Mônica,
pela primeira vez, como Santo Agostinho e Santa Mônica, a quem a Igreja venera”.
O segundo exemplo extraído do relicário sentimental da minha própria vida, está
registrado no livro “Um Sopro de Eternidade”, de autoria do meu inesquecível
irmão Arnaldo Arzua Pereira - do qual tive a honra de ser co-autor , à página
70, e que narra o trágico momento em que o médico da família comunicou aos pais
do autor que este havia contraído a mais temível doença da época : a tuberculose.
O impacto emocional na família foi indescritível e o trecho seguinte narra as
suas primeiras conseqüências :
“ Por severa prescrição médica, nenhum irmão poderia entrar no quarto . Toda
a roupa de cama e banho, de meu uso, fora isolada das demais e era lavada separadamente,
o mesmo acontecendo com toda a louça e talheres usados nas refeições; as janelas
do meu quarto deveriam ficar permanentemente abertas, apenas protegidas por
telas de malha fina . Eu deveria abster-me de qualquer esforço físico e, nos
primeiros meses, guardar o leito .Mamãe colocou uma cadeira preguiçosa ao lado
da minha cama e, qual anjo-da-guarda, zelou por mim, dia e noite. No rigor do
inverno, com o ar gelado entrando pelos vazios das telas colocadas nas janelas,
ela ali permanecia , enrolada em cobertores , atenta à minha mais leve manifestação
de dor, tosse ou qualquer outro desconforto que eu revelasse. Eu, olhando para
ela, muitas vezes tentando esconder minhas lágrimas, pensava : minha Mãe é uma
Santa! Não é por acaso que seu nome é Maria . Será que , no Mundo, existe outra
igual?
Muitos anos mais tarde confessou-me meu irmão Arnaldo que, pelos anos afora,
emocionava-se profundamente sempre que relembrava o ilimitado desvelo da nossa
inesquecível Mãe, o que o fazia recordar a trova de autoria do Dr. Barreto Coutinho,
fundador da União Brasileira dos Trovadores- Sessão de Curitiba:
“
Eu vi minha Mãe rezando
Aos pés da Virgem Maria
Era uma Santa escutando
O que a outra Santa dizia ”
Eis
que, todas as argumentações aqui expendidas levam-me a assim definir a Mãe:
“Plantadora das sementes do amor na Família,
na Sociedade e em todo o Mundo”
Curitiba,
Capital Americana da Cultura – 06/05/2003
Comp. Ivo Arzua Pereira
R.C. de Curitiba Oeste – D. 4730 – R.I. |