Academia Sul-Brasileira de Letras
Posse
de Acadêmicos Titulares do Paraná
O
Olimpo e as Academias
Sejam nossas primeiras palavras impregnadas do mais autêntico sentimento de perene gratidão e de calorosas boas-vindas aos caríssimos “imortais” da Academia Sul-Brasileira de Letras, liderados pelo preclaro Presidente João Jandir Zanotelli, nossos irmãos gaúchos e catarinenses, que hoje engalanam com suas insignes presenças o solene ato de investidura dos novéis Acadêmicos paranaenses, magnanimamente eleitos por esta Egrégia Academia de Letras, o que constitui excelsa honra para todos nós.
Ao ser investido na qualidade de Acadêmico da veneranda Academia Sul-Brasileira de Letras, ao lado de exponenciais representantes da Literatura e da Cultura paranaenses, sinto-me como um amedrontado e estarrecido intruso ao deparar com o “Olimpo” das sumidades intelectuais dos Estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná, em histórico momento de múltipla celebração: a investidura de dez novos Acadêmicos; a Instalação da Subseção do Paraná; os Sesquicentenários da Elevação da Comarca de Curitiba à Província do Paraná e da Vila de Curitiba à Capital da Província e, certamente, para evento culminante, a consagração de Curitiba , como Capital Americana da Cultura 2003.
De per si, cada uma dessas insólitas efemérides, do mais profundo significado histórico e cultural, já se constituiria em soberbo motivo de incontido júbilo para aquelas pessoas afeitas ao gozo dos supremos valores intelectuais e espirituais .
E se essa rarissína conjuntura, subitamente trouxe-me à mente a fabulosa imagem do “Olimpo” é porque, segundo a mitologia grega, lá se reuniam os seus deuses, símbolos da Sabedoria , do Poder e das supremas virtudes espirituais, em deslumbrantes cenários celestiais, sorvendo o inebriante e divino néctar, alimentando-se com a deliciosa ambrosia, embalados pelo mavioso som da lira de “Apolo”, embevecidos pelos cânticos das Musas e encantados pelos fascinantes bailados das Cárites.
O “Olimpo” era dominado por Zeus, figura central da mitologia grega, imagem do Deus onipotente, onipresente e onisciente, Senhor Absoluto dos fenômenos celestes, tais como os fulgurantes raios, os ribombantes trovões, as furiosas tempestades e o extasiante cintilar da estrelas de bilhões de galáxias siderais .
Essa concepção de Zeus deriva do vocábulo “dei”, que significa resplandecer, presente nas principais línguas indo-européias antigas (grego, latim, hitita, sânscrito) e se constitui em um radical primitivo, sempre associado a uma veneranda divindade celeste e ao esplendor do dia, vocábulo que, como sabemos, deriva do latim dies, de cujo radical igualmente provem a palavra portuguesa Deus .
Hesíodo que, ao lado de Homero, constitui um dos dois grandes pilares da poesia helênica da idade arcaica (800 a.C), em seu imortal poema Teogonia, com 1022 versos hexâmetros, enfatizando o ilimitado poder de Zeus exclamou:
“Zeus ergueu-se então com seu poder, pegou suas armas- o trovão, o relâmpago e o ardente raio e saltando do Olimpo golpeou-o ”.
Se alguém, surpreso, perguntasse a que propósito surgiram estes exóticos pensamentos, certamente responderia com algumas simples, porém muito significativas analogias.
Preliminarmente avulta a natureza singular desta assembléia literária composta com o supra-sumo cultural do nosso Povo, pois que aqui se encontram reunidos alguns dos mais expressivos vultos da literatura de três dos mais desenvolvidos Estados Brasileiros : Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná .
Em associação de idéias, igualmente emerge à nossa mente que Afranio Peixoto, um dos mais proeminentes membros da Academia Brasileira de Letras, citando o escritor francês La Bruyére, Jean ( 1645-1696) afirmou : “ por isso se diz que o Povo fala pelos seus autores mas principalmente, a Humanidade, por alguns homens ” .
Tal ordem de idéias, poderia ser completada dizendo que essas personalidades excepcionais são enaltecidas com o glorioso epíteto de “imortais”, porque, à maneira de Zeus, em seu respectivos “Olimpos” do orbe terrestre, com sua peculiar erudição e seus exímios talentos intelectuais, através do incomensurável espaço da literatura, arremessam suas flamantes flechas em prosa e verso,que muitas vezes
geram retumbantes idéias e fulgurantes movimentos literários e culturais, alguns deles à maneira de avassalores vendavais que transformam irresistivelmente o meio-ambiente sócio-político-econômico e cultural, assim alterando definitivamente os destinos da Humanidade .
Portanto, aqui estão reunidos em Assembléia Cultural aqueles que, com sobejos méritos, altaneiramente falam pelas populações do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná .
Eis porque o conceito de Academia, a meu ver trás consigo, umbilicalmente ligada, a imagem de um Olimpo terreno, bastando para corroborar está analogia a lembrança de como foi gerada a Renascença.
Ao tentar compreender e avaliar o papel essencial das Academias na edificação e evolução do Saber e da Cultura, sempre deparei, entre curioso e deslumbrado, com o período de verdadeira ebulição inovadora e criativa que recebeu o nome de Renascença .
A Renascença, que floresceu nos Séculos XIV , XV e XVI, operou um verdadeiro redirecionamento nos destinos da Humanidade, porque consistiu não apenas na recuperação das obras clássicas, mas foi muito além, pois que fez eclodir, com irresistível ímpeto, uma nova concepção do Mundo e do destino do Ser Humano, mais tarde denominada Humanismo.
O Humanismo, gerado no ventre da Renascença, caracterizou-se por operar a restauração do patrimônio filosófico, literário, artístico, científico e , enfim, cultural, herdado da Antigüidade, com a finalidade de colocar a serviço da Humanidade, além das concepções puramente teológicas, aquelas que são fruto da Razão e da sua essência , a Lógica.
A Renascença, surgida na Itália , logo se difundiu na Alemanha, na França, na Inglaterra , na Espanha , em Portugal e nos Países- Baixos , legando à Humanidade obras imortais de verdadeiros gênios, na Literatura (Prosa e Verso), nas Artes (Belas-Artes, Artes de Conduta e Artes Liberais ), nas Ciências (Exatas e Aplicadas) e na Filosofia, obras que se agrupavam formando “correntes do pensamento” ou “escolas”, mas sempre no sentido da eterna busca do Amor, do Belo, do Bom, da Verdade, da Felicidade e da Paz .
Desse modo gerou-se , cresceu e expandiu-se um imensurável ambiente cultural que, de alguma forma, condicionou todas as realizações humanas e caracterizou determinadas culturas, em certas épocas da História da Humanidade, assim estimulando o surgimento e desenvolvimento de gerações e gerações de literatos, poetas, historiadores, músicos, pintores, cientistas, engenheiros e arquitetos criativos e inovadores .
Eis porque, ao ingressar neste arrebatador ambiente de um Olimpo terreno, recordei as palavras de Miguel de Unamuno, o grande poeta, filósofo e escritor espanhol quando, ao adentrar o Pórtico da Glória, contemplando toda aquela magnificência gótica da Basílica de Santiago de Compostela , extasiado exclamou : “ ante este Pórtico há que rezar, de um modo ou de outro; não cabe fazer literatura .
Identicamente, plagiando Miguel de Unamuno, pensei : “ante a grandiosidade deste simbólico Olimpo, não cabe fazer literatura. De um modo ou de outro, há que elevar preces a Deus pelo privilégio de participar desta magnificente assembléia literária”.
Dominado por irresistível emoção, cumpro o indeclinável dever de manifestar meus imperecíveis agradecimentos às confreiras e aos confrades paranaenses, hoje investidos na agora também “nossa” Academia, os quais conferiram-me excelsa honra ao eleger-me Vice-Presidente, para dirigir os destinos desta Subseção do Paraná, da Academia Sul-Brasileira de Letras.
Igualmente é impostergável dever de justiça salientar e agradecer o zeloso e dedicado trabalho de coordenação e organização, devotadamente exercido pelos Acadêmicos Luís Renato Pedroso, Túlio Vargas e Harley Stocchero, para que o mirífico sonho de ontem se transformasse na esplêndida realidade de hoje: a Subseção do Paraná.
Eis porque, além de renovar a todos os novéis Acadêmicos meu preito de perene gratidão, desejo prestar-lhes reverente homenagem, pronunciando com inrestrita admiração e profunda emoção os seus insignes nomes : Chloris Casagrande Justen, Clotilde de Quadros Cravo, João Darcy Ruggeri, Lauro Grein Filho, Luís Renato Pedroso, Roza de Oliveira, Sebastião Ferrarini , Túlio Vargas e Walter Martins de Toledo .
À luzida comitiva de imortais da Academia Sul-Brasileira de Letras, liderada pelo egrégio Presidente Jandir João Zanotelli e pelos Vice-Presidentes Joaquim Monckes e Lauro Junckes , respectivamente das Subseções do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, constituída de luminares da literatura gaúcha e catarinense, já solenemente nominados pelo protocolo, nós, os Acadêmicos hoje solenemente empossados, reiteramos nossos protestos de inrestrita admiração e perenal gratidão, ao tempo em que formulamos a cada um, ardentes votos de um futuro pleno de saúde e assinalado por esplendorosas vitórias literárias.
Curitiba, Capital Americana da Cultura – 02/06/2003
Ivo Arzua Pereira
Academia Sul-Brasileira de Letras – Subseção do Paraná
Vice- Presidente |